Historicamente falando, o Aikido é uma forma de Budo oriunda do antigo Jujitsu, mais especificamente do Daitoryu Aikijujitsu.
As técnicas foram cuidadosamente transmitidas a Morihei Ueshiba por Sokaku Takeda. Com o passar dos tempos e sua busca por aprofundamento na técnica, Ueshiba mudou por diversas vezes o nome do Budo de Daitoryu Aikijujitsu para Aikijujitsu, Ueshibaryu Aikibujitsu, Aikibudo e outros (contudo, tais mudanças e quando estas ocorreram são informações que não podem ser precisadas). Finalmente, o nome Aikido foi adotado e amplamente difundido, a ponto de ser considerado um novo tipo de Budo. Entretanto, ao analisar sua organização e estrutura básica, tanto a técnica atemi waza quanto a kansetsu waza são heranças do Jujitsu tradicional.
Tanto o Aikido quanto o Judô são oriundos do Jujitsu tradicional, sendo que o primeiro tem suas raízes mais ligadas ao Daitoryu Aikijujitsu. O nome Aikido foi cunhado por Morihei Ueshiba após uma epifania na qual o Aikido foi tido como uma inspiração divina (tal evento ficou conhecido como shinjin aiki). O Judô tem como base o Kitoryu Jujitsu. Jigoro Kano modernizou o Jujitsu tradicional a partir de seus princípios de Judô.
Tecnicamente, o Aikido se diferencia do Judô pela forma que os competidores se posicionam durante a luta. Enquanto o Aikido baseia-se nas técnicas atemi waza e Kansetsu waza (os oponentes se mantêm distantes uns dos outros), o Judô se vale das técnicas nage waza e katame waza (os oponentes se mantêm a uma distância que permita a “pegada”, elemento bastante característico de seu randori).
Acredita-se ser necessário haver uma forma de competição segura na qual não haja luta de fato, mas, sim, uma forma de se pôr em prática e de se desenvolver as técnicas do Aikido moderno. Dessa forma, pode-se praticar as técnicas e treinar seu corpo e mente ao mesmo tempo.
Do ponto de vista do Aikido, tido como o “Budo do amor”, o princípio de não lutar em competições é um aspecto do Aikido como Budo (acredita-se que seja importante para o ser humano evitar o confronto no seu dia a dia). Porém, se analisarmos a fundo o significado da palavra “competição”, então veremos que não se trata de luta, mas de um trabalho em parceria a fim de colocar à prova suas próprias técnicas, sua concentração e sua resistência física. Dessa forma, esse espaço torna-se valioso, pois permite que as técnicas sejam postas em prática e que se busque o conhecimento do Budo.
Há uma necessidade de se praticar o randori em um ambiente onde seja possível colocarmos em prática nossas técnicas contra um oponente que também compartilha do mesmo propósito. Regras claras e rígidas são necessárias para limitar o alcance das técnicas e garantir a segurança do processo como um todo.
É importante que o praticante tenha bastante conhecimento e prática nas técnicas que foram excluídas do randori por questões de segurança. Isso ocorre porque os princípios que nos norteiam através do kata são usados no randori, sendo necessária tal reflexão. É claro que ninguém, em sã consciência, deve participar de uma competição subitamente, ou seja, sem a devida preparação: todo atleta deve praticar o kata e o randori tendo como base aspectos como condição física adequada, idade e habilidades técnicas.
Com isso, percebe-se que o Shodokan Aikido amplia seu escopo, pois não se limita à teoria e oferece, também, a prática.
A primeira implicação é a de que o Aikido, tornando-se um esporte, perderia seu status de arte marcial. A segunda é a de que as técnicas mais “letais” deixariam de existir por completo.
É evidente que, para se treinar o Budo, é fundamental que o praticante adote uma postura de seriedade, e essa regra se aplica também a qualquer esporte. Hoje em dia, quando analisamos o termo “seriedade”, devemos enxergá-lo por dois vieses: a seriedade do estilo e a seriedade de atitude. Antigamente esses dois conceitos eram indistinguíveis, mas, atualmente, é importante que se faça tal distinção, pois a prática exclusiva do kata garantirá ao praticante o alcance da seriedade do estilo, mas a seriedade de atitude (a luta e toda sua força que lhe é inerente) estará perdida.
Em um cenário de competição, há, no entanto, um limite à intensidade empregada na luta, mas o competidor adquire daí a seriedade de atitude ao usar toda sua força e energia de forma eficaz e adequada. Para todo o resto (aquilo que não se desenvolve através da competição), adquire-se naturalmente através da prática do kata. Assim, é seguro dizer que tanto o randori quanto o kata se complementam como formas de treinamento.
O Shodokan Aikido amplia seu escopo pois não se limita à teoria e, além disso, oferece a prática.
Tradicionalmente, acredita-se que haja 2.884 técnicas do aikijujitsu e, consequentemente, um número infindável de aplicações dessas técnicas (dependendo de circunstâncias como o local, o perfil do oponente etc.). Tais técnicas foram selecionadas e classificadas em 17 categorias básicas que podem ser usadas livremente no randori, com o intuito de desenvolvimento de habilidades técnicas. Em torneios, desenvolve-se também vigor e coragem que são os pontos-chave da prática do randori.
Entretanto, não se pode esquecer da ampla variedade de técnicas oriundas do kata como, por exemplo, elementos de defesa pessoal, aplicados de acordo com o tipo de ataque e com a origem desse ataque. Técnicas de randori são de uma natureza diferente. Ao analisarmos as razões que levaram ao desenvolvimento do randori competitivo, observamos que ele emprega elementos de defesa pessoal sem a ênfase na luta (do ponto de vista literal).
O treinamento para a competição é o caminho mais rápido para o desenvolvimento de um praticante. É notável e reconhecidamente sabida a dificuldade em se aplicar ao contexto de competição as técnicas do kata puramente, mesmo admitindo-se que deste estilo emane a essência das técnicas usadas em competições. Por isso tudo, aconselha-se a prática do kata juntamente à prática do randori. No Shodokan Aikido existe um sistema de práticas oriundas tanto do kata quanto do randori, que são igualmente bem estruturadas e distribuídas entre si. Porém, vale ressaltar a necessidade de cada praticante encontrar o equilíbrio em sua própria prática de acordo com sua idade, habilidades etc.
O randori foi originalmente chamado de “midare geiko” (prática sem ordem): algo que está longe de ser fácil, mas que não tenha que ser praticado. Aqueles que não desejem participar das lutas podem, ainda assim, refletir sobre suas técnicas aprendidas através do kata ao participarem de práticas de randori. Além disso, há pelo menos 3 níveis de randori a se escolher: de acordo com a idade do competidor, o gênero e o porte físico.
- a. Kakari geiko
Técnicas praticadas no kata são usadas mas sem ordem definida. O Tori deve aplicar as técnicas corretamente de acordo com o ataque do Uke, e este aplica as quedas sem resistência. O Tori deve aplicar as técnicas rapidamente, ao passo que o Uke executa a queda imediatamente, contanto que seja adequada à técnica aplicada. Por meio dessa prática, o Tori aprende a agir por instinto e deve usar, como base para seu aperfeiçoamento, a habilidade de variar as técnicas dependendo da resistência do Uke, por exemplo. - b. Hikitate geiko
O Uke executará a queda somente quando o Tori aplicar técnicas corretas e eficazes. Caso a técnica não seja eficaz, a queda não poderá ocorrer. Nesse último caso, o Tori deve rapidamente aplicar uma técnica diferente. É função do Uke ajustar sua velocidade em ataques com faca e resistir aos diferentes níveis de golpes aplicados pelo seu oponente. Nesse cenário, o Uke auxilia o Tori em seu desenvolvimento. - c. Randori geiko
Aquele que estiver segurando a faca deve atacar seu oponente livremente de acordo com as regras e resistir às técnicas que lhe forem aplicadas. O oponente desarmado focará na aplicação de sua técnica, em sua concentração e resistência física oriundas de seu aprimoramento através do kata, kakari geiko e hikitate geiko. O randori geiko é uma prática que almeja o progresso ao mais alto nível técnico, e é por essa razão que o Aikido não depende de força física, mas sim de postura correta, distância segura do oponente, esquiva eficaz etc.
Somente após ter passado por esse treinamento em práticas de randori, aconselha-se a participação de um competidor em uma competição. Porém, o randori geiko não é a mesma coisa que o randori de competição. Aqueles que não se identificarem com os torneios devem encarar tais competições como mais um processo natural de desenvolvimento do Aikido.